08/02/2009

Uma Convenção aberta e outras notícias


Tenho hesitado nos últimos dias em escrever sobre as manifestações dos trabalhadores ingleses contra a contratação de portugueses e italianos para trabalharem em Inglaterra. Isto porque me parece que a crítica ao xenofobismo inglês, parecendo ter um objectivo justo, deixa de lado a principal razão porque se contratam trabalhadores estrangeiros. Não é para fazerem trabalhos que os ingleses não querem, mas de certeza para que os patrões possam pagar menos e para mais facilmente quebrarem as suas reivindicações sociais. Sei que isto é controverso, mas há um comunicado da INTER que acho que reflecte este meu ponto de vista (Ver notícia aqui).


Hesitei também em escrever sobre o “abominável assassino", foi assim que a Igreja Católica o classificou, que consiste em retirar os aparelhos a uma jovem que há 17 anos, em Itália, é mantida viva artificialmente. Este caso revela aquilo que já se sabia: a aliança entre o neofascismo, mascarado de direita conservadora, e o catolicismo oficial, representado pelo Papa Bento XVI. A maior vergonha, que permite nunca mais levar a sério os católicos, por exemplo, o Cardeal Patriarca de Lisboa, que se queixam do fanatismo dos muçulmanos.


Por fim decidi, vou escrever sobre a VI Convenção do Bloco de Esquerda.
Antes de mais alguma história pessoal.
Como já tenho vindo a revelar neste post, fui militante do Partido Comunista antes do 25 de Abril. Nessa altura como é previsível nunca participei em nenhum Congresso daquele Partido. Penso que o único que se realizou já durante a minha militância foi o que teve lugar em Kiev, na URSS, no ano de 1965, o VI Congresso. Mas não tenho a certeza, pois como não havia fichas na clandestinidade, não sei verdadeiramente em que ano entrei para o Partido. Sei que só a posteriori é que ouvi falar daquele Congresso.
Assim, depois do 25 de Abril, quando tem lugar, já em liberdade, o VII Congresso (Extraordinário), em Outubro de 1974, não imaginava como era um Congresso do PCP, nem no Movimento Comunista Internacional. Participei nele unicamente como convidado, pois o sector a que eu pertencia na altura, os professores da zona de Lisboa, só teve direito a eleger dois ou três delegados. No entanto, dada a minha ignorância, imaginei que este tivesse as características daquilo que eu tinha conhecido durante toda a minha vida associativa, primeiro nas reuniões gerais de alunos (RGA), e depois na ainda incipiente democracia escolar e sindical. E apesar de ter discutido durante os dias que antecederam o Congresso o abandono da expressão “ditadura do proletariado” nos Estatutos e as atribuições da escola pública, cuja principal contribuição, em relação às Teses, veio do Teodoro, o pai do sindicalismo dos professores, não fazia a mais pequena ideia como este iria decorrer. A direcção do PCP não modificou a sua proposta de alteração dos Estatutos, no que àquele termo se referia, convencendo os militantes, aqueles que se deixaram convencer, e provavelmente melhorou as Teses, com as propostas apresentadas, o resto foi o apoio à crescente força do PCP, que tinha recentemente demonstrado a sua importância nas barricadas de 28 de Setembro.
Fiquei espantado, não pensava que um Congresso fosse assim, estava convencido que iria assistir a uma discussão semelhante às das RGA. Depois aceitei, comecei a compreender como era o esquema e deixei de me interrogar se outro caminho era possível, até que no XVI Congresso, em 2000, comecei eu e uma série de camaradas a achar que era viável fazer diferente e aí teve início um movimento, que de forma ainda incipiente se veio a chamar Renovação Comunista.
Tendo esta experiência como pano de fundo, dirigi-me hoje, 7 de Fevereiro, à VI Convenção do Bloco de Esquerda, como convidado em nome do Movimento Renovação Comunista. Notei logo que a recepção dos convidados seria mais informal do que num Congresso do PCP. Tanto se lhes dava que fosse um militante convidado das organizações do Bloco como representante de um outro movimento ou partido. Não havia na sala lugares reservados aos militantes de outros partidos, pelos menos que eu soubesse. No PCP tudo existe e está separado. Lugar bem distinto para os congressistas, lugares para os convidados das organizações, lugares para a imprensa, lugares para os outros partidos e para os convidados VIP. Nesta Convenção apesar dos congressistas estarem separados dos convidados, não me pareceu que isso fosse rígido ou que houvesse qualquer outra separação. A segurança era francamente menor e mais discreta.
Depois havia a possibilidades de apresentar diferentes moções, no caso do PCP chamam-se teses, e só existem umas para cada Congresso. De manhã foram apresentadas diferentes propostas para a revisão dos estatutos. Há tarde discutiram-se as diferentes moções. Houve gente a criticar e a discordar severamente. O acordo de Lisboa entre António Costa e Sá Fernandes, apoiado pela Direcção do Bloco, foi bastante criticado. Onde é que isto era possível no PCP.
Assisti naquele Partido anos e anos a discutir-se porque é que os Congressos no PCP eram mais democráticos do que os dos outros partidos, que de um modo geral, penso eu, são semelhantes ao que se passa na Convenção do Bloco. Hoje, depois de pensar que nunca me convenceram, mas aceitando sempre, não me conseguem provar e nem vale a pena vir aqui discutir esse tema, que o que se passa nos Congressos do PCP é intrinsecamente não democrático e só se justifica, ou justificou, devido às difíceis condições de clandestinidade que alguns partidos comunistas viveram ou então à implantação progressiva do estalinismo no movimento comunista.
Amanhã, farei um relato mais completo desta Convenção.
PS.:
Hoje, dia 8, fui-me informar melhor sobre como funcionava a Convenção em relação aos diversos participantes. Apesar de não haver uma separação rigorosa nem especialmente controlada, havia de facto uma zona para os jornalistas trabalharem, na parte de trás da sala. Os convidados internacionais estavam à frente, misturados como os delegados. Como os convidados de outros partidos e organizações só se esperava que viessem ao meio-dia de hoje, para a sessão de encerramento, reservou-se lhes uns lugares manhosos, na primeira fila onde lá conseguiram sentar os representantes do PCP, os primeiros a chegarem, da CGTP, que apareceu em força, dos Verdes, a seguir, e depois do PS, com a inesquecível Edite Estrela e um comparsa. Numa bancada ao lado, estava que eu percebesse, todas as restantes delegações. No entanto, tudo isto bastante informal e pouco delimitado.

4 comentários:

F. Penim Redondo disse...

Ontem vi-te na reportagem da televisão, sentado na bancada a seguir os trabalhos com grande atenção.
Como sabes a minha experiência no PCP é idêntica à tua, por isso concordo com a generalidade do que dizes.
Só que eu reagi logo no XIII Congresso e tu no XVI.
És um bocado mais lento (ah,ah,ah)
Por isso também vais demorar mais tempo a perceber que o BE também não é a resposta.

Jorge Nascimento Fernandes disse...

Sei que este comentário é uma “maldadezinha” da tua parte. No entanto, porque pode haver alguém que te leve a sério, gostaria de te responder.
Primeiro quando o “bloco de leste” se desagregou, em 1989, e alguns militantes começaram a elaborar documentos críticos em relação ao PCP e depois se reuniram no Fórum Picoas, para constituir uma organização de reflexão da esquerda, eu estive presente, tal como tu, simplesmente os acontecimentos precipitaram-se de tal forma que ao fim de pouco tempo já não existia URSS (1991), mas sim um capitalismo desalmado e os nossos “renovadores”, se assim os poderemos chamar, estavam rapidamente a passar-se para o PS. Nestas circunstâncias não me pareceu avisado romper com o Partido numa altura destas e hoje estou convencido que fiz bem. Quando posteriormente, já em 2000, outro grupo se separou do Partido depois de ter tentado por dentro, com o “novo impulso” renová-lo, pareceu-me que a sua acção era mais consistente, a que tu inicialmente deste o teu apoio. Hoje, estou no Movimento Renovação Comunista, nunca me demiti do PCP, eles é que me afastaram. E tenho esperança, se tiver tempo de vida suficiente, que ainda um dia, com outra direcção, possa voltar ao PCP.
O que leste sobre o Bloco e aquilo que provavelmente irás ler não significa que tenha aderido àquela organização, até porque estive na sua Convenção como mero convidado. Mas isso não significa que não verifique o óbvio, ou seja, que o seu funcionamento é muito mais democrático do que o do PCP.

Júlia Coutinho disse...

O BE ser mais democrático também é relativo.
Veja-se o que fizeram com a Joana Amaral Dias: retiraram-na da direcção sem sequer a avisarem! Vês alguma democracia nissso?

Anónimo disse...

dr. Fernandes, não terá vossa excelência sonhado que era militante do PCP?
Para doutor vossa senhoria é de facto... desonesto ou analfabeto!
Aderir a uma organização Politica das Características do Partido Comunista Português; sem se ter informado devidamente sobre tal organização.