02/03/2009

“A Campanha Negra”. Congresso do PS – Parte II


Podem alguns vir dizer que “não se deve gastar cera com tão ruim defunto”, ou seja, que o Congresso do PS não vale dois posts seguidos. No entanto, acho que se deve dizer mais qualquer coisa, pois este Congresso entronizou “a campanha negra” contra o seu Secretário-geral e o partido que dirige.
Sócrates e os seus apaniguados já há muito tinham lançado o mote contra “a campanha negra” de que ele e o PS estavam a ser vítimas. Mas foi neste Congresso que se tornou doutrina oficial. A partir de agora há dois tipos de portugueses, aqueles que acreditam na “campanha negra” e os que duvidam.
Mas o mais espantoso é que todos os membros do PS, mesmo quando vestem a pele de comentadores “independentes”, quer António Vitorino, nas Notas Soltas, quer António Costa, na Quadratura do Círculo, assumem em uníssono esse desiderato. As palavras podem ser diferentes, mas no fundo defendem sempre o mesmo: há uma “campanha negra” contra Sócrates e o PS. Santos Silva vai mesmo mais longe, quem a puser em causa está já colaborar com essa campanha.
Neste Congresso “a campanha negra” adquiriu uma forma mais elaborada. Passou a ter o rosto de um director de jornal e de uma televisão. Logo vozes pressurosas se apressaram a descodificar qual era o jornal, o Público, e a televisão, a TVI. Depois era uma carta anónima que ajudava à festa. Com tão pouco, “a campanha negra” não ia longe, mas foi o suficiente para que todos à porfia se esfalfassem para agradar ao chefe e garantir que havia uma campanha.
O PS já é useiro e vezeiro em campanhas negras e cabalas. No caso de Casa Pia estava montada uma cabala para atacar o Paulo Pedroso e o Ferro Rodrigues. Aí, mesmo assim, havia mais probabilidades de acertarem, mas no entanto a direcção daquele partido teve o bom senso de parar com a vitimização, abandonando, e bem, a tese da cabala.
Quanto se fala de “campanha negra”, vem novamente ao de cimo a tese da vitimização que, segundo alguns, poderá render alguns votos, mas principalmente poderá fazer a ponte para aquilo que segundo Marcelo Rebelo de Sousa irá acontecer, ou seja, rapidamente a Procuradoria vai dar por encerrado este caso, provando por A mais B que Sócrates não é suspeito, nem nunca foi. Provavelmente só restarão corruptores e não corrompidos e por isso encerra-se a investigação.
Toda esta prosa, que relata o óbvio, pretende unicamente chamar a atenção para aquilo que mais me confrange em toda esta história que é tornar-se doutrina oficial uma boutade que, em momento mais infeliz, se deixa escapar contra acusações que, segundo o visado, podem parecer injustas. Nesse sentido, só tendo uma clara noção de que vai tudo acabar em “águas de bacalhau” e que Sócrates poderá mais uma vez emergir da adversidade como um vencedor é que se transforma um caso de justiça numa “campanha negra”.

Tudo o mais que se diga do Congresso é inútil, a imprensa os blogs já fizeram o relato completo. Quanto à escolha de Vital Moreira para candidato ao Parlamento Europeu, tenho as minhas dúvidas quanto à sua eficácia. Escolher ex-comunistas para roubar votos aos comunistas já se revelou, no passado, um disparate, principalmente quando o seu afastamento em relação ao PCP é de 180 º. Em relação ao Bloco, parece-me outro disparate, pois naquele partido ninguém se revê na prosa e no discurso apparatchik daquele intelectual, sempre pronto, do ponto de vista ideológico, a justificar os disparates mais irrelevantes de José Sócrates e do seu Governo. Não é pessoa por quem se tenha qualquer admiração intelectual e quem o afirma é que está a fazer figas por trás, pois Vital Moreira é o exemplo, devido aos seus artigos, do chico-esperto que já em tempos acusei alguns do porta-vozes do PS. Para a direita, por outro lado, tem suficientes anti-corpos de esquerda que não justificam que se gaste cera com tão ruim defunto. E acabo assim como comecei.

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