27/06/2009

Fim de Festa


Por razões familiares e de saúde – lá fui mais uma vez a Madrid – não tenho escrito nada neste meu blog. Sei como a ausência de novidades determina imediatamente uma clara diminuição de leitores. É como se um jornal diário só saísse quando o seu director quisesse, rapidamente iria à falência. Aqui como não tenho custos, nada me acontecerá economicamente, mas de certeza que aqueles que me costumavam ler regularmente já nem se lembram de dar aqui um pulo. Dificuldades de quem não precisa da prosa para viver. Dito isto, passemos ao que interessa.

No post anterior fiz uma análise do resultado das eleições para o Parlamento Europeu. Afirmei que os resultados tinham sido mais graves do que eu desejava e, posso dizê-lo, previa. O PS sofreu uma derrota de que provavelmente já não se consegue recompor e aquilo que poderia ser intuído antes das eleições, mas que ninguém levava muito a sério, tal eram as certezas das sondagens, hoje passou a ser uma evidência. E estas coisas são como são, a comunicação social, os comentadores e todos aqueles que vivem da política perderam todo o respeito ao Governo de José Sócrates e, por tabela, ao PS. Sucede a este Governo como àqueles homens fortalhaços, que no fulgor da idade conseguem amedrontar todo o mundo e são os reis da sua rua, e que depois, quando a velhice chega, já só são objecto de escárnio e de desprezo generalizado. Assim está José Sócrates. Ainda há pouco tempo se dizia que estava imbatível, as sondagens davam-lhe quase a maioria absoluta, todos os comentadores opinavam que a dúvida seria se Sócrates ganharia com maioria relativa ou absoluta. E não é que depois das eleições já ninguém acredita que o Primeiro-ministro continue a sê-lo no próximo Governo.
Este clima já se respira em todo o lado, é o fim de festa socialista. Hoje, na SIC Notícias, foi Medina Carreira a malhar no Governo, à mesma hora ,Vasco Pulido Valente, na TVI, e no Expresso da Meia-Noite todos contra os disparates de Sócrates a propósito do episódio da venda daquela estação televisiva à PT.
Tudo isto me faz lembrar o final do reinado de António Guterres (2001), quando este, antes eleições autárquicas, que ditaram o seu afastamento, não tinha para onde se virar. Era a direita, mais o patronato, a atacar em força, o PCP a não abrandar a sua crítica – nessa altura ainda não havia um Bloco de Esquerda com a força que tem hoje. Neste momento a situação repete-se, já ninguém tem respeito para com José Sócrates, que de animal feroz passou ao velho decrépito do nosso exemplo.
Dirão uns que é cedo de mais para ditar a sua morte. Pode suceder. Mas tudo vai no sentido oposto.
Mas isto são só apreciações intuitivas, que nada devem à reflexão política. A verdade, é que em política nem tudo se resume a correlação de forças, à táctica e à estratégia prosseguidas. Há de facto percepções da realidade que nos podem fazer compreender melhor o sentido da corrente. Há alterações dos “estados de alma” que nos permitem intuir o que se passa. E hoje penso que Sócrates e o seu Governo estão em queda absoluta, que já é impossível corrigir a direcção e daí os disparates que começam a ser feitos, como este caso da TVI.
É evidente que isto pode ser mau para as forças de esquerda. A direita pode tomar o freio nos dentes e apoderar-se, além da Presidência, que já detém, da Assembleia da República, do Governo e das Autarquias. É um perigo real. E muitas vezes a queda do PS arrasta também a sua esquerda. Isso não está provado, mas às vezes sucede. A ascensão dos Governos de Cavaco Silva coincidiu com o fracasso do PS, mas também do PCP.
Por isso, para aqueles que possam embandeirar em arco com a derrota de Sócrates e do PS, há que tomar as devidas cautelas, porque não é garantido que isso seja no seu conjunto benéfico para a esquerda, à esquerda do PS. Podemos depois das eleições ter uma desagradável surpresa.
Verdade seja dita que tudo que está a acontecer ao PS é por sua exclusiva culpa. Que não diga que não foi avisado, que não atribua culpas à sua esquerda, que nunca abonou as más companhias com que andava. Não se pode redigir um Código Laboral como aquele que se aprovou ou manter a intransigência que se demonstrou com os professores e depois vir-se dizer candidamente que a culpa é da esquerda, que não se moderniza. Quando se está convencido que se tem o rei na barriga e que se pode dispensar as forças à sua esquerda, chamando-lhes totalitárias, extremistas e não democráticas, está-se inexoravelmente a cavar um fosso intransponível que torna impensável, na hora da derrota, contar com qualquer ajuda.
Nunca se aprende nada e cometem-se sempre os mesmos erros. Vamos a ver como vai sair o PS e toda a esquerda desta curva apertada.

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