06/09/2009

O caso de que se fala


Como já devem ter previsto o caso de que se fala é o da suspensão do Jornal Nacional, da TVI, das sextas-feiras. Segundo os analistas políticos, transvertidos agora em politólogos, parece que esta suspensão está a provocar profundos estragos na estratégia eleitoral do PS e até nos possíveis resultados eleitorais deste partido.

Comecemos pelo princípio. Vi raras vezes o Jornal Nacional e quando ele começou a ser falado tive o cuidado o visitar, mais para me actualizar sobre o caso Freeport, que foi neste blog bastante referido, do que verdadeiramente pela informação prestada. Podemos dizer que o Jornal Nacional, era o protótipo do populismo, tão de agrado direita inculta portuguesa e do lumpen-proletariado citadino, sempre pronto a pescar nas águas turvas do Paulo Portas ou do Santana Lopes. Era uma coisa intratável, muito do género do que se faz na América do Norte, segundo dizem, e do que povoa as televisões latino-americanas, também segundo opiniões alheias.
Nesse sentido, percebe-se que no último Eixo do Mal, da SIC Notícias, Clara Ferreira Alves, considerando este jornal aberrante e a sua autora uma jornalista desclassificada, ache bem a sua suspensão e mostre alívio por o mesmo desaparecer.
O que se me oferece dizer sobre esta opção.
Este tipo de jornalismo, populista, dirigido a alguns políticos específicos, nada objectivo e apelando aos sentimentos mais baixos e rasteiros da opinião pública, há muito que existia – veja-se os jornais tablóides –, só não tinha lugar nas televisões. Nelas estávamos habituados à respeitabilidade e seriedade na informação, que, no entanto, vinha de há uns anos para cá a ser alterada, tanto na TVI como na SIC, dado que tinham começado a recorrer ao sangue e às misérias individuais para aumentar as audiências. Contudo, temos que ser claros, aquela informação dita objectiva, a que existia na RTP, praticou durante muitos anos a censura mais rasteira e a desinformação mais descarada. Estou-me a lembrar, porque segui este assunto de perto, do caso dos hemodialisados de Évora, num dos Governos de Cavaco Silva, cuja morte foi devida à qualidade da água que lhe era injectada nas veias, e que a televisão pública, numa manobra de censura e manipulação de informação, conseguiu fazer passar a ideia de que a culpa era da Câmara Municipal de Évora, nessa altura gerida pelo comunista Abílio Fernandes, porque as águas de abastecimento público tinham valores de ferro que ultrapassavam os limites superiores estipulados na lei, e não do Hospital, que injectava essa água directamente nas veias dos pacientes, para economizar, sem a fazer passar por um sistema de osmose inversa que retivesse o ferro existente na água de abastecimento. Estou recordado que foi devido à existência da SIC, nos bons tempos iniciais, em que esta dedicava grande espaço televisivo aos programas de informação, que foi possível esclarecer este assunto e que acarretou posteriormente o julgamento e a acusação dos médicos envolvidos no processo. Não existisse a SIC, e a RTP, com toda a seriedade informativa, conseguia manipular a opinião pública de modo a culpar a Câmara comunista das malfeitorias do Hospital.
Portanto, este exemplo, só vem ilustrar como nem sempre a informação séria é aquilo que pensamos e como a mesma pode censurar e manipular a seu belo prazer.
Tudo isto para concluir que, havendo diversas opções, aquele tipo de televisão não deve ser abafado, até porque pode permitir o contraditório, não podemos é permitir que, devido aos interesses dos grupos capitalistas envolvidos, ele se torne dominante e consiga abafar a outra informação. É bem verdade, que no nosso país, dada a estrutura frágil e dependente dos nossos grupos económicos, é difícil durante muito tempo uma televisão privada manter no ar informação que deliberadamente hostilize o poder vigente. Mas isto acontece enquanto for o bloco central a mandar. Forme-se um governo de esquerda, hostil aos grupos económicos, e ver-se-á imediatamente as campanhas que estas televisões serão capazes de desencadear. Por isso, se deve manter sempre uma televisão pública forte e com audiências, capaz de na devida altura responder a estas ameaças asfixiantes da democracia.
Já agora, para aqueles que tem muitas preocupações com o que se passa na Venezuela e em alguns países latino-americanos, gostaria de informar que a maioria dos canais televisivos desses países praticava um jornalismo deste tipo. Como não existiam televisões nacionais com a projecção devida, quando as forças progressistas ganham as eleições aquele tipo de televisões, arruaceiras e de extrema-direita, controladas pelos grandes grupos económicos, se não pelos norte-americanos, são normalmente lestas em desencadear em uníssono campanhas de desinformação contra os novos governantes. Quando, de acordo com a lei, são retiradas a essas televisões a concessões que lhe tinham sido concedidas, ai que é a liberdade de informação que está em jogo. Conhecemos a história.

No mesmo programa do Eixo do Mal, Daniel de Oliveira, vem defender, contra a opinião de Clara Ferreira Alves, a intocabilidade de programas deste tipo, já que considera a liberdade de informação um valor absoluto, que não pode estar submetida aos interesses dos governos ou das empresas. É evidente que aqui Daniel de Oliveira leva longe de mais a sua absolutização da liberdade de imprensa. Em primeiro lugar temos que saber como é que este programa foi criado. Não foi devido ao prestígio de jornalista de Manuela Moura Guedes que ele lhe foi atribuído. Por exemplo, Marcelo Rebelo de Sousa tem prestígio e jeito, vale por si. Ninguém o convida por ser do PSD e ser professor doutor, mas sim pelas audiências e prestígio que trás à televisão. Já tenho mais dúvidas sobre António Vitorino. Ora a apresentadora do Jornal Nacional estava lá por ser unicamente mulher do “patrão”, José Eduardo Moniz, afastado este eis que a mulher lhe segue os passos. Portanto não estamos aqui perante um atentado à liberdade de informação, mas provavelmente ao acabar com um caso simples de nepotismo familiar. Por isso, tenhamos alguma moderação naquilo que dizemos e não transformemos uma menina rabina e de poucas letras, numa heroína da liberdade de informação em Portugal.

Resta por último a posição daqueles que por ódios antigos, Cintra Torres, no Público, ou por aproveitamento eleitoral evidente - a posição de Pacheco Pereira e de Manuela Ferreira Leite, e do factótum Cavaco Silva - quiseram transformar este caso num ataque do PS à liberdade de informação. Isto são guerras em que não me quero meter. Não posso, no entanto, deixar de constatar que Sócrates, quando ainda os ventos da política lhe corriam de feição achou por bem desencadear um ataque em forma aquele Jornal Nacional, com aquele ódio e aspereza que se lhe conhecem e que o tornam um político arrogante e sobranceiro. Neste momento está por isso a colher as tempestades que semeou e é bem feita, porque todas as que lhe caiam em cima são o resultado de quatro anos de um Governo pesporrente, dono e senhor do poder.

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