21/09/2009

O perigo do “sistema soviético”


Paulo Rangel, essa nova esperança do PSD, apareceu em Viseu a dar a mão a Manuela Ferreira Leite. No seu discurso, depois de ataques aos apoios que Manuel Alegre e Mário Soares deram a Sócrates, achou por bem fazer esta pergunta ao PS “Mas afinal o PS faz ou não acordos com o passado?” O passado era representado pelo Bloco de Esquerda que defendia para Portugal o “sistema soviético”, (palavras do próprio Rangel), que já tinha sido vencido. Isto, porque Mário Soares de manhã tinha dito que não lhe repugnava uma coligação com o Bloco de Esquerda.
Para lá destas biscas que alguns PS e de outras áreas de esquerda vão lançando, tentando influenciar o pós 27 de Setembro – mas isto é outra história –, temos esta afirmação perfeitamente espantosa, não de um qualquer militante do PS, como esse Tomás Vasques, agora promovido debatente oficial entre bloggers, no TVI 24 horas, mas do euro deputado, vencedor das últimas eleições para o Parlamento Europeu e putativo candidato a Presidente do PSD.

Depois de no último post ter falado dos Os ódios de classe ressuscitados, que mereceu do meu amigo Fernando Penim Redondo, do DOTeCOMe, o comentário de que não era por ódio de classe que o Expresso tinha falado dos PPR do Francisco Louçã, mas sim por despeito e de António Costa Pinto, na SIC Notícias, à noite, ter dito que os dirigentes do Bloco eram da classe média e estavam entrar na idade adulta da política, por já terem esqueletos no armário (os PPR) como qualquer político que se prezasse, reconheço que, se as notícias do Expresso e os noticiários da SIC Notícias não são por ódio de classe, são pelos menos por ódio político profundo.
É evidente que na tradição marxista vulgar ódios de classe tem sempre a ver com a luta entre burguesia e proletariado e entre os partidos representantes destas classes. Simplesmente, como já nada disto é como era, apesar de Jerónimo de Sousa dizer que era por coerência, com a sua classe, penso eu, que não tinha PPR – quem falou em oportunismo político –, eu ainda continuo a pensar que a ideologia dominante, neste caso a informação dominante, não convive bem, nem quer, que um partido de esquerda, não capitalista, possa ter êxito numas eleições democráticas e tudo fará para que isso, pelo menos com a sua conivência, não suceda. Conhecemos o que se passou no Chile e o que se passa hoje na América Latina.

Por isso, Paulo Rangel não faz mais do que ressuscitar o velho papão comunista, seguindo sem originalidade grande número de comentadores, como o Pacheco Pereira, que mais não fazem do que garantir que o Bloco tem uma agenda escondida e que se lhe derem a mão, ele a toma para num repente transformar Portugal no país dos sovietes. Para mim, isto é ressuscitar o velho ódio de classe, que neste caso se manifesta pelo anti-comunismo, mas que na notícia do Expresso e nos noticiários e comentários referidos se expressa pela desinformação e provocação, mas acima de tudo pela omissão, pelo comentário jocoso, pela opinião que parecendo séria mais não faz do que desvalorizar e confundir.

Vemos seguir os próximos episódios, suspeito que vem provocação e da grossa.

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