17/02/2010

A contra ofensiva


Resolveu José Sócrates convocar os órgãos dirigentes do PS para desencadear uma ofensiva contra todos aqueles que o andavam a criticar por querer dominar os meios de informação que lhe eram hostis.
Mas antes disso, enviou os seus homens de mão para abrirem caminho a essa contra ofensiva. Primeiro vem a artilharia pesada, comandada por Mário Soares que, em adiantado estado de senilidade e em nome da solidariedade militante, tenta, em artigo no Diário de Notícias, encobrir o chefe do Governo. No mesmo dia, Vital Moreira escreve no Público um artigo sobre a Censura Imaginária. Victor Dias, em O Tempo das Cerejas, já lhe deu a resposta devida. Ontem também, na SIC Notícias, em cantinho encantador, Mário Lino veio debitar a sua teoria. Para aquele ex-ministro, quando os administradores da PT, que foram apanhados nas escutas, se referem ao chefe, qualquer pessoa normal, diz ele, entenderia, que era do Presidente da PT que estavam a falar. Mas não, afirma ele indignado, vieram logo dizer que o chefe era o Primeiro-Ministro. Para quem não leu o Sol esta afirmação pode ter sentido, mas no contexto das escutas percebe-se perfeitamente que são referentes a Sócrates
Mas, o povo miúdo começa também a agitar-se, isto para não falar da convocação da manifestação e do Manifesto que, como diz Joana Lopes, virou Petição que por aí circulam. Assim, um conjunto de activistas do PS começou a encher as caixas do correio com notícias, comentários, transcrição de post, um mar de coisas.
Mas qual é o centro da questão. Já não estamos na fase de dizer que o conteúdo das escutas eram conversas privadas, que violam o segredo de justiça e que os media que as utilizam fazem um jornalismo de buraco da fechadura. Agora começou a fase de desvalorizar quem as denuncia e as suas intenções ocultas.
Demos um exemplo, em que facilmente a esquerda caiu. Daniel de Oliveira num post que chama Não falamos todos do mesmo quando falamos de liberdade de imprensa, reproduz uma notícia do Angola Digital que escreve que o jornalista Mário de Carvalho, não confundir com o escritor, tinha se demitido de coordenador do Sol em Luanda, por considerar diminuta a liberdade editorial de que dispunha. Pouco tempo antes recebi na minha caixa de correio um e-mail onde se transcrevia um texto de Joffre Justino, penso que militante do PS e antigo colaborador da UNITA, onde se diz: “Direito de antena? Zero! Criticas ao SOL? Zero! O caso de Mário Carvalho já era um caso sério e não um acto de entretenimento e manipulação. Resultado? Anule-se o caso.” Eu sei que não é preocupação do Daniel de Oliveira desvalorizar o caso das escutas e que o seu post só pretende separara o trigo do joio, mostrando que aqueles que aparecem como paladinos da liberdade de imprensa fazem o mesmo ou ainda pior que os outros que denunciam. Simplesmente como se viu este assunto serve logo para discredibilizar a denúncia das escutas feita pelo SOL e para mostrar que os media estão todos feitos uns com os outros para denegrirem o Governo.
Mas há mais. Nesse mesmo e-mail é dito que “a PT fechou os primeiros nove meses do ano com receitas operacionais de 4,9 mil milhões de euros…”. A seguir acrescenta-se “Apetecível empresa não?” Este tem sido o raciocínio mais divulgado: é tudo uma tramóia para se ficar com a golden share do Estado na PT ou então para a poder comprar. É como sempre a teoria da conspiração a funcionar. Falam das escutas mas o que querem é a PT. E o e-mail termina deste modo: “Por isso entendo bem quem decidiu marcar a Manifestação do dia 20, na Fonte Luminosa, pelas 15h, em defesa deste Governo, da Estabilidade, da Democracia, da Liberdade de Expressão e não de manipulação.” Sobre isto estamos conversados.

Mas este não é caso único, recebi outros e-mails em que o tom era o mesmo, ou desvalorizavam as escutas e quem as tinha feito ou então que toda esta operação visava o favorecimento dos grupos privados da comunicação.
Aquilo que eu desejo é que a esquerda, à esquerda do PS, tenha a cabeça fria e que, para não dar armas à direita, se embrulhe em tais contradições que a determinada altura pareça que está a defender Sócrates.
Fotografia de Robert Capa referente ao desembarque na Normandia, Omaha beach, em 6 de Junho de 1944.

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