18/05/2010

Uma semana louca


A semana passada foi das mais espantosas em termos mediáticos. Numa altura em que o Governo lançava a maior operação de esbulho ao bolso dos portugueses e "dava o dito por não dito" em tudo o que já tinha dito, os media criaram um país artificial. Metade estava a comemorar a vitória do Benfica e a outra metade recebia beatificamente o Papa.
Hoje já sabemos que no fim-de-semana em que o Benfica era campeão uns senhores da União Europeia, de voz mais grossa, tinham dado uns berros que ou Portugal apertava os gasganetes dos seus cidadãos ou então o euro acabava. Vai daí, pela calada da noite, e parece que a reunião durou até de madrugada, dois senhores, um deles o conhecido Ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, e o outro uma tal Nogueira Leite, que, com ar angélico, nos aparece na televisão transvertido de comentador independente, negociaram, o primeiro em nome do PS e segundo em nome do PSD, as malfeitorias que iriam fazer aos portugueses. No dia seguinte de cara lavada José Sócrates e Passos Coelho concordam, parece com pequenas alterações, com as medias que aqueles dois senhores tinham acordado durante a noite.
Enquanto tudo isto se passava e o nosso destino era traçado quer por Bruxelas, quer por dois senhores que para isso não tinham sido mandatados nas eleições Outubro, os media dominantes continuavam alegremente a debitar a mais que desinteressante visita papal.
Só uma semana depois caímos na realidade e suspeito que ainda não nos apercebemos daquilo que nos irá acontecer.

No meio disto tudo dois pequenos apontamentos. Houve, parece que este fim-de-semana, a bênção das pastas dos “meninos-estudantes” que as quiseram levar a benzer. Grande reportagem nas televisões. A juventude sempre estouvada, de capa e batina, de pastas com fitinhas a receber bênção de suas excelências. Mas o que mais me indignou foi a resposta de um jovem à pergunta sobre as dificuldades que iria encontrar na vida real. Respondeu, com grande alegria e satisfação, concordando perfeitamente com as palavras que dizia, que trabalho era fácil de arranjar, um emprego é que era muito mais difícil. Como que se verifica a ideologia dominante e as faculdades de economia existentes já conseguiram moldar o espírito de um jovem que galhardamente se oferece como voluntário para a defesa da flexibilidade no emprego. Mal sabe ele que há alguns anos e provavelmente ainda hoje, quando um departamento de recursos humanos perguntava a um candidato a um emprego o que é que ele pretendia, se este respondesse trabalhar, era um passo andado para a admissão, se respondesse um emprego, de certeza que era recambiado pela mesma porta pela qual tinha entrado. São estes os exemplos dos jovens que estão a sair das nossas faculdades.

Outro pormenor teve a ver com a visita do Papa. Fátima Campos Ferreira (FCF), como mulher de mão da Igreja, assegurou a partir de Fátima a direcção para a RTP 1 de toda a informação da visita papal. Quem foi ela entrevistar, o inefável João César das Neves. Já se sabe que o Sr. Professor falou da riqueza espiritual de todo aquele “comovente” ajuntamento. Mas FCF não pode resistir a fazer um trocadilho entre a riqueza espiritual e a pobreza que iria afligir os bolsos dos cidadãos, ao que Sua Excelência respondeu que perante o fervor religiosos que se estava ali a viver quanto transitórias eram as medidas económicas que se estavam a tomar, nas costas de todos, digo eu.

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