22/09/2010

Presidenciais II


O último post que escrevi sobre este assunto, pretendia, sob a forma de comentário a um artigo que Cipriano Justo, da Renovação Comunista, tinha escrito para o Público, alertar para que o candidato do PCP não iria ser um factor de convergência da esquerda para derrotar a direita, mas sim, como resultado do sectarismo e do bloqueio do PCP, poder considerar-se como o único candidato verdadeiramente de esquerda e não comprometido com o PS e por isso incapaz de qualquer compromisso ou desistência para com o outro candidato da esquerda, Manuel Alegre, o melhor colocado para derrotar o da direita.
Sem ter obtido qualquer comentário, fui lendo em alguns blogs (ver aqui e aqui) que a personagem era tão ignorada dos votantes como dos próprios militantes do PCP, ou tão risível, que a sua cadidatura corresponderia a uma táctica de valorização de Manuel Alegre. Não estou de modo algum de acordo com isto e penso, por aquilo que já foi declarado pelo candidato do PCP, se Manuel Alegre não aparecerá também como um dos seus inimigos de estimação, para além, evidentemente de Cavaco Silva. Bem gostaria de estar enganado.

No meu texto não tinha examinado a situação de todos aqueles órfãos da extrema-esquerda nacional, desde que foi criado o Bloco, que eu classificarei de “esquerdistas”, que não se revêem na candidatura de Manuel Alegre e que ou defendem, em desespero de causa, o voto em Francisco Lopes ou então, como o José Neves, em algum candidato exótico, como Defensor de Moura.
Um dos primeiros mitos que esta extrema-esquerda acalentou foi o de que o PCP apresentasse um candidato unitário, tipo Carvalho da Silva, que permitisse o voto da esquerda, que não se quer sujar em compromissos espúrios. Já se sabe que aí o PCP trocou-lhes as voltas. Nunca este partido apresentou candidatos unitários a eleições presidenciais , com a vocação de perderem, mas representarem muito condignamente a “independência” de esquerda. Sabemos que o PCP preferiu, em 1976, arrostar com uma votação humilhante em Octávio Pato do que submeter-se à lógica minoritária e “esquerdista” de Otelo Saraiva de Carvalho. O mesmo se tendo passado com Maria de Lurdes Pintassilgo, em 1986, preferindo desistir a favor de Salgado Zenha do que apoiar aquela candidata.
Por isso, e bem, não puderam contar com o PCP para manterem as mãos puras ao votarem numa coligações anticapitalistas, que, em certas circunstâncias, só conduz à descrença e em nada contribui para a derrota do candidato da direita.
Outros ainda, em face do panorama, depois de terem deixado cair a sua admiração por o Fernando Nobre (ver este meu post), voltam-se para o único candidato, que sendo a emanação do colectivo, segundo a sua suposição idealista, acreditam que este lhes permitirá votarem em alguém que se reclama do anticapitalismo ou então que seja contra a NATO, como eu já vi escrito por aí. Como se Ramalho e Eanes, em quem os comunistas já votaram, fosse um paladino dessa luta.
No fundo é o reencontro do velho esquerdismo nacional, sempre a considerar-se incorruptível e mais revolucionário do que todos os outros e a não admitir acordos com a “burguesia”, com um PCP esgotado e fechado no gueto, que sempre foi considerado revisionista e reformista por estas boas almas, mas que presentemente, em desespero de causa, serve para poderem, sem compromisso, votar.
Alguns, mais puros, parece que se vão abster, porque meter as mãos na “merda” não é com eles.
A todos estes lembrarei que a posição “esquerdista” nunca foi boa conselheira. Espero pois que ainda recuperem, pois por vezes a vida obriga-nos a compromissos e à necessidade de sujarmos as mãos. E penso que custa menos engolir o sapo votando em Alegre do que em Mário Soares, esse sim um verdadeiro sapo peçonhento e dos perigosos.

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