09/10/2010

Ainda a propósito do pensamento único, da ofensiva da direita e de quem é o inimigo principal.


Daniel de Oliveira escreve hoje no Expresso um texto (sem link), O Compressor, que aborda de forma muito clara e resumida tudo aquilo que eu, em vasta prosa, tenho vindo a referir nos meus últimos posts: a existência de um pensamento único nos media. Motivado por isso, apesar da insistência no tema ser provavelmente fastidiosa para os meus leitores, gostaria mais uma vez de voltar a este assunto e delimitar bem três conceitos que explano no título e que foram abordados na minha prosa anterior.
A ideia que está contida no texto do Daniel de Oliveira é de que a propósito das medidas tomadas pelo Governo os comentadores-economistas que povoam as televisões nos venderam todos a mesma opinião, que só varia no radicalismo em que se expressa. Atribui esse facto ao "assalto das correntes neoliberais à Academia” e à “crescente proletarização dos jornalistas” que facilmente cederam ao espírito dominante da época. Contra este estado de coisas fala do abaixo-assinado, que já foi por mim referido no último post: “Pelo pluralismo de opinião no debate político e económico” na comunicação social (ver link no post anterior).
Sobre esta matéria já escrevi mais do que o suficiente. O domínio dos media, principalmente da televisão, incluindo a pública, por esta casta dominante é aterrador. Simplesmente associei esta situação à ofensiva da direita, que conta quase sempre com a colaboração do PS.
Hoje relendo tudo o que escrevi verifico que, tirando o caso da revisão constitucional proposta pelo PSD, em que o PS se tentou transformar em herói do Estado Social, a direita, através dos seus comentadores e ideólogos foi sempre insistindo nestas medidas que o Governo do PS veio agora tomar, andando até agora o seu Primeiro-Ministro quase sempre a assobiar para o ar, descrevendo um país ideal que não correspondia à realidade.
Apesar de pensar que tudo aquilo que diz o Daniel de Oliveira é verdade, considero no entanto que este facto não é novo e que varia de objectivos conforme o momento. No início do Governo de Sócrates, este era incensado pelos media dominantes pelas “medidas corajosas” que estava a tomar a e oposição de direita era ridicularizada (veja-se a recepção que teve Luís Filipe de Menezes). Hoje a situação alterou-se e enquanto que José Sócrates não tomou estas medidas a pressão da direita nos media foi diária. Foi isso que eu escrevi. O PS serve enquanto segue a “linha correcta” e a direita está em crise, quando esta sobe nas sondagens e já não precisa dele, é corrido.
São estas duas ideias, de haver uma ofensiva da direita que dispõe da comunicação social para impor o seu pensamento único e de ser o nosso inimigo principal, que causou alguns engulhos a certas pessoas.
Ora eu tenho para mim que é a direita – o patronato e os seus intelectuais orgânicos – que mexe os cordelinhos. Aceita e acarinha o PS quando o seu pessoal político falha e aquele segue o “caminho justo”. Quando sente força e acha que pode impor a sua política, tenta despedir o PS e governar ela. Simplesmente, se com Guterres foi fácil, este assustou-se com o pântano que aí vinha, com Sócrates tem sido mais difícil, o que não quer dizer que seja por mérito deste, mas sim por demérito da direita, que neste momento se encontra num beco sem saída, sem saber se deve ou não aprovar o orçamento. Veja-se hoje o artigo do Pacheco Pereira, no Público.
Daniel de Oliveira aborda este tema de raspão na coluna de opinião já referida, quando fala no final desta de O Vilão. Este seria José Sócrates que, segundo ele, seria o bode expiatório de tudo o que tem corrido mal em Portugal. Com a sua substituição parece que tudo se resolveria. Eu não diria tanto, mas reconheço que este é dos assuntos mais complicados para a esquerda e passível da mais fácil demagogia.
Se tiver força e engenho escreverei qualquer coisa sobre este tema a propósito das eleições presidenciais e da posição que o Avante! tem tomado, principalmente no número desta semana, sobre Manuel Alegre

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