27/04/2010

A igreja cúmplice do nazismo, fascismo e outras ditaduras


A menos de quinze dias da vinda do Papa convém recordar um pouco a história

26/04/2010

A Arte de Morrer Longe - Mário de Carvalho


A Arte de Morrer Longe, conversa com o autor, Mário de Carvalho, e leitura por Diogo Dória.

A sessão terá lugar no próximo dia 26 de Abril, segunda-feira, pelas 18.30h

Livraria Leya na Barata, Av. Roma, 11-A.
Já o livro livro e gostei muito. Falar-vos-ei disso depois. Aproveitem e passem amanhã ao fim do dia pela Barata.

25/04/2010

Aguiar Branco ouve vozes de além-túmulo


Não ouvi na totalidade o discurso de Aguiar Branco na Assembleia da República a propósito da passagem do 36º Aniversário do 25 de Abril. Parece, segundo os comentadores, que resolveu a propósito de baralhar a esquerda com a direita fazer citações de Sérgio Godinho, Lenine e Rosa Luxemburgo.
Num pequeno enxerto transmitido pela SIC Notícias ainda tive oportunidade de ouvir alguns dislates como o de ser povo tanto o trabalhador da Lisnave como o seu accionista. Ou então, a citação de Lenine, que já vem da Marx ou de Engels, das duas condições necessárias para haver uma revolução: que os de baixo já não aguentem mais e dos cima não possam governar como dantes. As palavras são minhas e não de qualquer daqueles autores, mas a ideia é a mesma. Percebe-se que aplicada aos dias de hoje esta citação vem completamente a despropósito, já não tanto em relação ao próprio 25 de Abril, mas isso é coisa que Aguiar Branco não entenderá.
Mas o que mais me indignou foi ouvir uma citação de Rosa Luxemburgo pronunciada a seguir à Revolução Bolchevique, contra o domínio daquela revolução por um único partido, que Aguiar Branco, sem o dizer, tenta dirigir ao Partido Socialista e à qual atribuía a data de 1920.
Ora Rosa Luxemburgo, um dos espíritos mais lúcidos da esquerda revolucionária alemã do final do século XIX e início do Século XX, foi assassinada por espancamento por milícias da direita nos inícios de 1919, aquando do levantamento em Berlim do movimento espartaquista, que esteve na origem do Partido Comunista Alemão. Portanto, quando o nosso citador de ocasião atribuía a data de 1920 àquelas palavras, já Rosa Luxemburgo estava morta e enterrada e só por transmissão mediúnica é que Aguiar Branco as podia enquadrar naquela data.

23/04/2010

Rui Pedro Soares não é um dos Dez de Hollywood


Um pequeno arrivista, que por saber mover os cordelinhos dentro do PS chegou a Administrador de PT, tentou hoje no nosso Parlamento passar por mártir ao recusar-se a responder às perguntas que os deputados da Comissão de Inquérito ao Negócio TVI /PT se preparavam para lhe fazer. As razões invocadas foram de que ele próprio não se queria incriminar e por isso achava que tinha o direito de ficar calado. Isto depois de ter lido um texto introdutório em que pedia desculpa a José Sócrates por ter invocado o seu nome em vão. Onde já chegámos na sabujice.
Os deputados da Comissão de Inquérito, com a abstenção do PS, que nesta Comissão se comporta unicamente para achincalhar, decidiram levar ao conhecimento do Presidente da Assembleia da República esta recusa de Rui Pedro Soares em prestar declarações para que este notifique, de acordo com a lei que gere estas comissões, o Procurador Geral da República deste comportamento, de modo a poder instaurar ao depoente o devido processo crime por desobediência classificada.

Este episódio fez-me por momentos recordar a gloriosa luta de alguns argumentista, e não só, que na Hollywood do início da Guerra-Fria se recusaram a denunciar à Comissão de Actividades Anti-americanas, criada com funções de inquérito pela Câmara dos Representantes dos EUA, os seus companheiros que teriam opiniões próximas dos comunistas. Por esta recusa em prestar declarações à Comissão foram julgados e condenados a penas de prisão que variaram entre um ano e seis meses e ficaram com as vidas profissionais completamente destroçadas.
Esta batalha dos Dez de Hollywood, que ficará para sempre na história como um exemplo da verticalidade, só por ironia é aqui invocada, não deixando no enanto de ser uma homenagem a uma luta há muito esquecida.
A História conta-se em poucas palavras e integra-se num episódio muito mais triste e vasto que foi, no início da Guerra-Fria, a Caça às Bruxas, neste caso a homens e mulheres de esquerda, nos Estados Unidos.
Reporto-me, por facilidade de informação, à Wikipedia (versão em língua francesa): no início de 1947 diversas personalidades ligadas ao cinema e a Hollywood foram convocadas para depor na Comissão de Actividades Anti-americanas, onde lhe eram feitas perguntas do género se tinham feito parte do Partido Comunista Americano, se perfilhavam ideias comunistas ou se conheciam alguém que tivesse feito parte daquele Partido ou perfilhasse tais ideias. Depois de várias peripécias, houve dez corajosos produtores, realizadores e argumentistas que, invocando a 1º Emenda da Constituição Americana, se recusaram a responder e por isso foram acusados pelo Congresso de ultraje. Simultaneamente foram incluídos num lista negra elaborada pelas grandes companhias cinematográficas que os impedia, bem como a outros incluídos igualmente naquelas listas, de trabalharem para a indústria cinematográfica.

A lista dos dez é a seguinte: Alvah Bessie, argumentista, Herbert Biberman, argumentista e realizador, Lester Cole, argumentista, Edward Dmytryk, realizador, Ring Lardner Jr, jornalista e argumentista, John Howard Lawson, argumentista, Albert Maltz, argumentista, Samuel Ornitz, argumentista, Robert Adrian Scott, argumentista e produtor, e Dalton Trumbo, argumentista e romancista.
O processo de julgamento começa em Abril de 1948. Sendo o seu julgamento separado. A maioria foi condenada a um ano de prisão.
Houve um que traiu, foi Edward Dmytryk, que já preso pediu para ser ouvido novamente pela Comissão e delatou 26 nomes.
Em todo este grande processo houve gente sem escrúpulos que delatou e colaborou activamente com a Comissão e houve outros que se manifestaram contra esta e os posteriores julgamentos. Queria aqui lembrar os nomes de John Huston, William Wyler, Humphrey Bogart, Lauren Bacall, Groucho Marx e Frank Sinatra.

Em próxima oportunidade irei desenvolver este tema e principalmente o papel desempenhado por alguns dos Dez de Hollywood na história do cinema.
A fotografia retirada de Notícias Sapo tem não só a identificação dos Dez de Hollywood, como mais informações sobre o caso.

19/04/2010

A queda de um anjo


Por diversas razões, a minha assistência a este blog tem sido espaçada. Apear disso, tento fugir daquilo com que vulgarmente se atafulha a blogosfera, evitando postar músicas, vídeos ou pequenos comentários chistosos. Continuarei, provavelmente para desespero dos meus leitores, a escrever longos linguados de reflexão “séria” sobre a situação política.
Hoje, irei mudar um pouco de agulha e, ao correr da pena, debruçar-me-ei sobre os males que atravessam a Igreja Católica que ultimamente têm sido tão badalados.

Em primeiro lugar referir-me-ia a um post de Rui Bebiano, da Terceira Noite e de Vias de Facto, com quem há tempos andei às turras, mas que hoje, acalmados os ares e reconhecendo mais uma vez a qualidade da escrita, me apetece comentar.
Tal como eu, Rui Bebiano considera este problema da pedofilia na Igreja como um epifenómeno, que terá a importância que os media lhe quiserem dar, mas que no fundo passará, digo eu, com uns pedidos de desculpa e umas lágrimas vertidas a tempo, como todos os outros pecadilhos sexuais da Igreja. Hoje já ninguém se apoquenta com o Crime do Padre Amaro, mas revelações daquele género causaram escândalo na Igreja do seu tempo.
Tenho também que reconhecer a maneira elegante com que Rui Bebiano trata Vasco Pulido Valente e a crónica que este, sobre aquele assunto, publicou este fim-de-semana no Público, afirmando que esta era uma “daquelas diatribes quebradiças e caturras com as quais intervala análises brilhantes e preclaras”. Sobre as análises preclaras tenho as minhas dúvidas, mas reconheço que, por vezes, com grande raiva minha, algumas vezes acerta. Já se sabe que se eu tivesse que responder àquele articulista nunca empregaria termos tão suaves para os seus dislates.

Mas regressemos ao essencial, a crise da Igreja e a permanência, contra ventos e marés, da sua doutrina. Rui Bebiano atribui mesmo ao seu post o título Bento XVI não será Gorbatchev. E aqui tenho que reconhecer que a Igreja, com os seus 2000 mil anos de história, procede com mais inteligência do que aquele político que de uma penada, na esperança de o renovar, deitou por terra um importante movimento político, antecedendo o drama que atravessa hoje grande parte do movimento comunista que ou se renova e se destrói ou se mantém na mesma e é incapaz de crescer e de influenciar o andar do mundo. Mas não é deste drama que vos quero falar, nem a Igreja se poder confundir com aquele movimento.

Entendo que aquilo que tem vindo progressivamente a destruir as Igrejas na Europa Ocidental, principalmente a Católica, tem sido a irrupção do mundo moderno do modo de produção capitalista e as implicações sociais e ideológicas que isso acarreta.
Recorrendo a uma materialismo histórico um pouco apressado, explicaria assim os vários passos com que o mundo contemporâneo foi destruindo o peso ideológico e social das Igrejas. Em primeiro lugar a industrialização global, que recorreu à mão-de-obra camponesa, afastando dos campos e da actividade agrícola o grande exército de reserva que era o campesinato. No Portugal ainda dos meados do século passado, aquela massa bronca e atavicamente ligadas aos párocos das aldeias e que metia medo aos nossos republicanos, que nunca lhe deram o voto, aterrorizados com a força dos seus chefes católicos e monárquicos, foi dispersa pela emigração que despovoou os campos, levou gente para a Europa desenvolvida e para as cidades do litoral. Esta mole imensa pode hoje votar à direita, mas há muito que deixou de estar sobre a influência directa da Igreja.
Outro factor de extrema importância foi também, por força da industrialização global, a entrada da mulher no mundo do trabalho, garantindo-lhe uma independência que nunca se tinha verificado anteriormente. Por outro lado, e concomitantemente com isto, a capacidade de dominar o seu ciclo reprodutivo, ou seja, ser capaz de decidir quando é que quer ter filhos. A independência económica e reprodutiva é pois um factor importantíssimo para a mulher fugir à sujeição familiar que a Igreja sempre lhe quis impor.
Por último, e não menos importante, a necessidade de mão-de-obra mais qualificada abriu a porta do ensino a milhares de filhos de trabalhadores que puderam obter um grau de escolaridade mais elevada que os seus pais e permitiu o seu acesso ao conhecimento, tornando mais relativos os valores religiosos de interpretação do mundo. Associado a isto estão as novas formas de representação ideológica introduzidas pelo sistema capitalista dominante, que se traduzem através dos meios de comunicação social e da arte popular: cinema e música, que nada têm a ver com as tradicionais formas de transmissão da informação típicas dos nossos avós.
Estes são, quanto a mim, alguns dos factores que, apresentados de forma simplificada, fazem com que a Igreja perca hoje o domínio do mundo contemporâneo.

Resta acrescentar que nada disto é linear e aquilo que pode ser verdadeiro para a sociedade portuguesa não ter qualquer transposição, por exemplo, para os Estados Unidos onde a força das Igrejas fundamentalistas é cada vez mais assustadora. Ou, noutro aspecto, o proliferar nas sociedades ocidentais dos esoterismos, quantificado pelo aumento de prateleiras sobre este tema nas livrarias e pela criação de seitas e todo o tipo de consultas e apoios espirituais que vão proliferando nas nossas sociedades.

Por último, resta acrescentar que a religião, de uma forma alienada, tem servido como esteio da unidade nacional contra os domínios estrangeiros ou das potências imperiais. Foi o que se passou na Irlanda, principalmente na Irlanda do Norte, e na Polónia onde o catolicismo serviu para cimentar a unidade nacional contra o ocupante estrangeiro.
O mesmo se está a verificar, com todas as formas absurdas que isso acarreta, de o islamismo servir hoje como forma de resistência ao invasor e ao ocupante estrangeiro, seja ele israelita ou americano. Mas isto deixaria para outra ocasião.

13/04/2010

De novo a direita


Desde que Manuela Ferreira Leite anunciou que se ia retirar, que a novela da sua sucessão tem enchido os jornais. A princípio todos os comentadores achavam risível a possibilidade de Passos Coelho ganhar o partido. Eu e muitos outros achávamos a sua actuação de plástico e a sua única proposta de que nos lembrávamos era a privatização da CGD. Pacheco Pereira lá alertava que Passos Coelho estava a funcionar há já bastante tempo como um grupo organizado dentro do Partido. Mesmo assim, sempre achei pouco provável a sua eleição como Presidente do PSD.
Quando Paulo Rangel lança a sua candidatura, optando pelo discurso de ruptura com a situação de pântano moral e político para que Sócrates e o seu PS nos estavam arrastar, achei que tínhamos homem e que ele seria provavelmente o novo Presidente. Eis que os comentadores, em uníssono, começam a desvalorizar as suas prestações televisivas e a super valorizar as intervenções de Passos Coelho. O resultado viu-se, vitória esmagadora deste, apresentando-se como o novo unificador do PSD e como candidato credível ao papel de primeiro-ministro. São os mistérios da política, que só Deus sabe como correm e isto diz-vos um ateu.

Mas é em função destes novos dados que temos que analisar a conjuntura.
Passos Coelho, insistindo na matriz social-democrata do seu partido, nega depois qualquer daqueles valores e embarca rapidamente no programa neo-liberal, com a revisão da Constituição e com tudo o que isso acarreta. Com a derrota do Santana e da sua aliança, com o ímpeto “reformista” de Sócrates, com a desagregação do Compromisso Portugal, com a compra de alguns dos seus corifeus, como António Mexia, para a EDP, e Nunes Correia, para Ministro, com a crise mundial e das opções neo-liberalizantes, a ofensiva ideológica da direita tinha abrandado, deixando esse encargo à trupe, chefiada por Sócrates, que tinha tomado conta do PS. Estes, numa linguagem mais soft lá iam falando da esquerda “moderna” e descomplexada, que não tem quaisquer preconceito contra a iniciativa privada e o mercado. E quanto mais as eleições se aproximavam, mais palavras ditas de esquerda eram pronunciadas.
Que fazia a anterior direcção social-democrata, falava na asfixia democrática e nos escândalos que abalavam o regime e ao mesmo tempo embrenhava-se na discussão da situação económica. Não queria grandes obras, opunha-se ao endividamento externo e defendia as pequenas e médias empresas e a redução dos impostos.
Que faz o novo líder. Espantosamente foge, como o Diabo da cruz, da situação económica actual. Parece, ouvindo Passos Coelho, que neste país tudo vai bem, excepto a intervenção excessiva do Estado na economia. Propõe, como tema mais importante a revisão constitucional, inventando problemas e regressando aos antigos. Na economia propõe mais dinheiro para as empresas em vez de subsídio de desemprego e trabalho social para os que recebem subsídio de inserção. Onde é que estão a asfixia democrática, o endividamento excessivo, a redução dos impostos? De facto, uma nova direcção, com outros objectivos, volta às propostas neo-liberais que anteriormente tinham constituído o mote da batalha ideológica que estava em curso na sociedade portuguesa, com o PS sempre às arrequas e temeroso das investidas do PSD.

Mas como responde o PS a estas novas propostas. Diz que a revisão constitucional não é uma prioridade. Está correcto, mas temo que não seda às melopeias maviosas do PSD.
Apoia este novo discurso, afirmando que tem propostas concretas na área económica. Quais? E congratula-se com esta nova linguagem que não utiliza, segundo ele, a maledicência na sua intervenção. Eu acho que o PS não tem muito a ganhar com esta troca, mas isto sou eu que digo, porque acho bem mais perigosa esta nova ofensiva da direita do que as implicações de Sócrates em negócios escuros. O PS não pensa assim, como a ideologia já não é nenhuma e a sua política é da esquerda “moderna”, bem pode a troco de mais umas cedências aliviar a pressão a que estava sujeito o seu Secretário-geral.
No meio disto tudo fica-se com a impressão, mas sou eu também que noto, que não há da parte do PSD nenhum programa para se chegar ao Governo. Não se fala em alianças, nem em derrubar este Governo, isso são miudezas que a seu tempo serão esclarecidas, o que interessa é dar já o tom e este é francamente da direita neo-liberal.