11/05/2011

A ofensiva neo-liberal, a esquerda que claudicou, e os salvadores da Pátria - II

Neste post irei dedicar-me àquela esquerda, provavelmente exígua, mas com algum acesso aos meios de informação, que há muito clama por um Governo PS, Bloco e PCP. Esquecendo quem é que comanda o PS, porque acha que não se deve imiscuir no assuntos internos dos outros partidos, se é José Sócrates ou aquela a que se convencionou chamar a ala esquerda do PS, que em determinada altura teve em Manuel Alegre o seu porta-voz.

O percurso daquela esquerda é variado e as personagens que a constituem provêm de diferentes sensibilidades políticas, todas de esquerda evidentemente. Por isso, limitar-me-ia a escrever sobre os factos mais recentes, já que em outras ocasiões, lhes fiz a crítica devida.

Aquando da apresentação da moção de censura do Bloco, ao Governo do PS, esta esquerda não esteve parada. Prevenia os incautos contra os perigos de se derrubar um Governo de centro-esquerda para o substituir por um de centro-direita. André Freire, um dos ideólogos desta corrente, veio clamar mesmo pela formação de um novo partido já que o Bloco não correspondia àquilo que se esperava dele, ser um auxiliar precioso da governação socialista, no fundo, ser a muleta do PS.

Mas as palavras de Freire não caíram em saco roto, rapidamente um grupo de cidadãos, diria que são sempre os mesmos, reúne-se e eis que surge um novo Manifesto, denominado por uma Convergência e Alternativa. Submetem pois “à consideração do PCP, do BE, e do PS, dos respectivos responsáveis mas também dos seus eleitores” as considerações que acima explanaram, “com um único objectivo: através do diálogo e do debate alcançar uma convergência política que possa oferecer aos Portugueses uma forte alternativa de esquerda.” No meio destas piedosas intenções não se esquecem de atribuir culpas ao Bloco e ao PCP, por o PCP e o BE não terem “ousado avançar para as próximas eleições com uma grande coligação das esquerdas através da mobilização de activistas dos movimentos sociais e de personalidades diversas representativas de sectores progressistas da sociedade portuguesa”. Mas a seguir isentam o PS de qualquer culpa ao manifestar “que não basta denunciar a submissão da actual direcção do PS às políticas de austeridade exigidas pelos mercados financeiros e pela UE. Sobretudo, é preciso que as restantes esquerdas aceitem iniciar um processo de convergência tendo em vista produzir uma alternativa política suficientemente credível para que, no futuro e sob pressão do eleitorado, o PS reconheça que tem um interlocutor com quem pode fazer um acordo político para tirar o País da crise.”

Paralelamente, a Associação Política Renovação Comunista pronuncia-se sobre o momento político  actual afirmando a dada altura que “não é esta a altura de discutir as condutas na última legislatura, sobre as quais a História por certo fará um dia a sua avaliação. Não é altura de discutir as divergências e os cálculos que motivaram a queda do governo do Partido Socialista sem cuidar das condições ulteriores de reforço à esquerda da correlação de forças e precipitaram o pedido de intervenção do FMI”. Depois de passar uma esponja em branco sobre a Governação socialista, restam-lhe as piedosas intenções de esperar que “o Partido Socialista e o conjunto da esquerda, à luz da Constituição da República que a direita visa anular, honrem a sua natureza de forças construtoras de uma democracia política, económica e social ao lado das classes trabalhadoras e das classes intermédias.”

É que bom que se diga que grande parte dos subscritores do referido Manifesto pertencem igualmente à direcção da Renovação Comunista.

Que conclusões tirar das posições desta esquerda que, no seu afã, sempre louvável, de manter a unidade de esquerda, considera o PS no seu conjunto como um partido de esquerda e acha que é possível, neste momento, um entendimento com aquele partido, quando o programa de ajuda externa já foi aprovado por Sócrates e propagandeado por este como bom.

Hoje, compreende-se que o separar de águas é entre aqueles que se preparam para resistir à troika e aqueles que a aceitam de bom grado, afirmando que conseguiram negociar um bom programa. Nesse sentido, podemos dizer que aquela esquerda claudicou, apesar de manter uma linguagem crítica em relação àquilo que nos querem impor, pensa que é possível dormir com o inimigo, acreditando que se a esquerda, à esquerda do PS, fizesse um esforçozinho este viria às boas dialogar com ela. Quando o que está neste momento em causa é trazer todos aqueles que no PS ou fora dele estão interessados em formar um pólo alternativo à aceitação das imposições da troika.

Penso que este problema é a contradição principal dos dias hoje e que a proposta de um Governo de Esquerda, do Bloco, ou Patriótico e de Esquerda, do PCP, apesar de não serem para já, podem ser, se tiverem pernas para andar, uma alternativa no futuro, muito mais alargada, é certo, a esse centrão medíocre e liberalizador que todos à compita nos querem impor.

Quanto aos salvadores da Pátria ficará para post posterior, porque hoje já são  muitos os candidatos.

2 comentários:

J Eduardo Brissos disse...

Acho que não foi agora que essa "esquerda" claudicou. O que acontece é que agora nota-se mais.

Jorge Nascimento Fernandes disse...

Caro Brissos

Por acaso, no meu texto, até sou muito claro relativamente ao assunto que levantas, pois escrevi mesmo isto: "Por isso, limitar-me-ia a escrever sobre os factos mais recentes, já que em outras ocasiões, lhes fiz a crítica devida." Parece-me que fica claro esta minha posição.
Um abraço
Jorge