29/01/2012

O caso da “historiadora” Raquel Varela e a crítica de JMF

A propósito de José Manuel Fernandes (JMF), sobre o qual escrevi no post anterior, encontrei na bloggosfera um link para um post da sua autoria, que se refere à entrevista que a historiadora Raquel Varela deu ao Público relativa à publicação do seu livro A História do PCP na Revolução dos Cravos (Bertrand Editora, 2011). Para a achincalhar refere-se a ela como “historiadora”, pondo o termo entre aspas, acrescentando que se devia mais apresentar como activista política.

O post já tem algum tempo, foi publicado em 25 de Abril de 2011, e consiste em criticar a posição que aquela assume de “que Álvaro Cunhal “nunca quis fazer uma revolução socialista em Portugal” e que “nunca existiu o risco de o PCP tomar o poder em Portugal” nos anos de 1974 e 1975”. As aspas no meio do texto são as declarações de Raquel Varela ao Público. Aquele blogger acha “que não é inócuo vender a tese de que o PCP é um cordeirinho pascal” e para perceber como é que a entrevistada chega àquelas conclusões vai ao longo do post, qual inquérito policial, procurando conhecer o seu percurso. A dado passo, apercebe-se que Raquel Varela não é do PCP, chegando a essa conclusão a partir de um texto de Vítor Dias, relativo à indignação deste a propósito da comunicação apresentada por Raquel Varela no primeiro colóquio Os Comunistas em Portugal, organizado, segundo o post de JMF, “pelo remanescente grupo” da Política Operária.

Aquilo que primeiro me vem à memória é como é que este ex-militante da UDP não se recorda, como tanta vezes gritou ou escreveu, que o PCP era social fascista, socialista nas palavras e fascista nos actos, e que não estava de certeza empenhado em fazer a revolução socialista em Portugal, antes, só pretendia sabotá-la. Esta gente depressa se esquece daquilo que aprendeu nos bancos da escola, por isso não se devia espantar com a posição de Raquel Varela que se assemelha àquela que ele e muito boa gente defendia na altura, com algumas nuances, é certo.

Segundo é que eu elaborei vai para quatro anos um post, em duas partes (ver aqui  e aqui), sobre a Revolução Democrática e Nacional, antes e depois do 25 de Abril, que de um ponto de vista totalmente diferente do de Raquel Varela chega, de algum modo, a conclusões semelhantes, mas não vendo nisso nenhuma traição do PCP à revolução. E mais, não só participei nos três colóquios sobre Os Comunistas em Portugal que se realizaram, o primeiro em 2008, onde Raquel Varela apresenta a primeira versão da sua tese de doutoramento e que muito me indignou, tendo escrito um post sobre o assunto. O segundo realizou-se em 2009 e o terceiro em 2010, onde tive oportunidade de apresentar uma versão mais reduzida dos posts já anteriormente referidos e onde Raquel Varela apresentou a versão final da sua tese e que depois foi revertido para o livro anteriormente referido.

O mais interessante de tudo disto, é que ao ler o meu post sobre a descrição do primeiro colóquio sobre os comunistas e as posições de Raquel Varela me apercebi que a frase que JMF atribui a Vítor Dias – “a tese muito defendida em alguns meios esquerdistas que o PCP traiu a Revolução aliando-se à burguesia e reprimindo as suas aspirações populares” – foi escrita por mim e transcrita por Vítor Dias, coisa que o nosso blogger não se apercebeu. JMF faz mesmo a partir daquela frase um link para o post de Vítor Dias, sucede é que este integrava a primeira parte do seu blog, O Tempo das Cerejas, que por qualquer razão informática deixou de estar disponível e obrigou o seu autor a fazer uma segunda parte.

Eu, por acaso, recordo-me da história porque sei que Vítor Dias não foi àquele colóquio e serviu-se do meu texto para criticar Raquel Varela.

Tudo isto se passou em 2008, já lá vão mais de três anos, não vale a pena estar a ressuscitar matéria tão perecível como são os posts na bloggosfera, simplesmente quis atribuir o seu a seu dono. No entanto, há uma coisa que não se alterou é a posição de todos estes reaccionários, incluindo até a posição do socialista Mário Soares sobre o papel desempenhado pelo PCP no 25 de Abril. Continuam a reescrever a história a propósito da chegada de Álvaro Cunhal à Portela e a defender que aquele pretendia no 25 de Novembro e mesmo antes disso instaurar de imediato o socialismo em Portugal. Dirigem o seu ódio contra aquele partido, quando no fundo o que querem atacar são as possibilidades transformadoras daquela Revolução.

PS. I: depois de escrito o post verifiquei que nada tinha dito sobre o livro (ver fotografia). Já o comecei a ler duas vezes, na segunda cheguei a metade. Sem desprimor para a autora, a verdade é que há sempre outros imperativos que mo impedem de acabar. Quando o ler na totalidade farei a sua crítica.

PS. II: depois de publicar este post, fui ao Google ver se era possível aceder ao post de Vítor Dias, referido no texto principal, para isso pesquisei em conjunto os nomes de Raquel Varela e de Vítor Dias e obtive resultados interessantes. Primeiro, encontrei uma entrevista dada por Raquel Varela à revista Sábado que foi por esta completamente censurada, tendo em compensação publicado referências ao post de JMF. Segundo, descobri que o Vítor Dias, de forma quanto a mim um pouco descabida, resolve, a propósito do lançamento do livro de Raquel Varela e sem o ter lido, fazer um aviso à navegação num comentário que remete para o seu post, que, por sinal, ainda continua indisponível. O meu nome vem diversas vezes à baila, já que, como eu sabia, ele tinha-se baseado num texto meu para criticar Raquel Varela. Só JMF é que não sabia.

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